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FIGA 2025: Festival Internacional Gestos de América celebra 15 anos em Salvador

Antigo FILTEBahia, o festival retorna em setembro com programação que une espetáculos, intercâmbio cultural e ações formativas em Salvador
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Foto: Caio Lirio

Entre os dias 2 e 14 de setembro, Salvador receberá a 15ª edição do Festival Internacional Gestos de América (FIGA), que ao longo dos anos se consolidou como um dos mais importantes encontros de artes cênicas da América Latina. Antes conhecido como FILTEBahia, o evento marca uma nova etapa de sua trajetória, reafirmando a capital baiana como ponto estratégico para a circulação internacional do teatro produzido no Nordeste e ampliando conexões com programadores, curadores e artistas de diversos países.

Um marco de transformação

Criado em 2008, o festival surgiu com a missão de conectar a cena baiana às produções latino-americanas. Ao longo de 15 anos, tornou-se um espaço de diálogo político e artístico, abrindo caminhos para o reconhecimento de grupos, companhias e coletivos nordestinos em palcos internacionais. Agora, sob o nome FIGA, o evento se reinventa, mantendo sua essência crítica e de resistência, mas ampliando seu campo de atuação.

Para o diretor artístico Luis Alonso-Aude, essa mudança não é apenas estética: “FIGA é gesto, símbolo de proteção e também um convite à reflexão. Ele traduz o próprio movimento da arte, que está em constante transformação, e reafirma a importância do teatro como linguagem política e espaço de invenção coletiva”.

Programação diversa e representativa

O festival apresentará 15 espetáculos distribuídos em duas frentes: o MITNordeste – Mercado Internacional de Teatro Nordestino, que reúne produções de diferentes estados da região, e o MITSalvador – Janela ao Mundo, dedicado à cena da capital baiana. A seleção traz obras que transitam entre a dança, o drama, a performance, o teatro documental e o experimental, compondo um panorama diverso das linguagens contemporâneas.

Os trabalhos abordam desde questões identitárias e decoloniais até reflexões sobre memória, ancestralidade, gênero e meio ambiente. Essa multiplicidade confirma o vigor criativo do teatro nordestino e sua capacidade de dialogar com problemáticas globais sem perder a força local.

Entre os destaques estão obras que exploram novas dramaturgias corporais, experiências de dança em Libras, processos autoficcionais, investigações sobre tradições ribeirinhas e narrativas que resgatam a presença feminina em episódios da história do Brasil.

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Foto: Hannah Rodrigues

Encontros e processos formativos

Mais do que uma mostra de espetáculos, o FIGA aposta em atividades de formação e intercâmbio. A residência artística “A Raiva dos Músculos”, conduzida por Andreia Duarte e Ariel Brito, reúne mulheres cis e trans em um processo coletivo de criação, com foco nas tensões de gênero e no enfrentamento ao patriarcado. Já a mostra de processo do espetáculo “Neva”, realizada por equipe da Universidade Federal de Pernambuco, abre espaço para a experimentação acadêmica no diálogo com o público.

O festival também promove o XI Núcleo de Laboratórios Teatrais do Nordeste-Nortea, encontro que integra artistas-pesquisadores de diferentes estados em trocas metodológicas e práticas criativas. Essa dimensão pedagógica reforça o compromisso do FIGA com a formação continuada, a pesquisa em artes e a valorização de saberes tradicionais e contemporâneos.

Plataforma de internacionalização

Uma das marcas do FIGA é sua vocação para inserir o teatro nordestino em redes internacionais. Para isso, a edição de 2025 inclui showcases em formato reduzido, que funcionam como vitrines para curadores estrangeiros, além de rodadas de negócios que aproximam companhias locais de programadores culturais de diversos países.

Ao todo, serão cerca de 20 produções apresentadas a mais de 30 representantes internacionais, reforçando a perspectiva de circulação global das criações nordestinas. Dois catálogos especializados também serão lançados, com informações detalhadas sobre os participantes, ampliando a visibilidade e a difusão dos trabalhos em feiras, festivais e mercados culturais.

O Encontro com Programadores, previsto na programação, é outro momento estratégico, funcionando como um dispositivo de networking que potencializa o alcance das produções e fortalece redes de colaboração.

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Foto: Guilherme Dimenstein

Impacto cultural e político

Mais do que um festival, o FIGA representa um movimento de afirmação da cultura nordestina. Ao reunir artistas de diferentes gerações e linguagens, o evento reafirma a potência criativa da região, ao mesmo tempo em que questiona estruturas desiguais de produção e circulação no campo artístico.

Para a produtora Márcia Cardim, responsável pela gestão do projeto, o FIGA também cumpre um papel político ao propor um olhar inclusivo sobre o teatro: “Nosso desafio é criar condições para que artistas nordestinos não apenas resistam, mas também ocupem espaços de destaque no cenário internacional. O FIGA é um lugar de encontro, de mercado e de transformação social pela arte”.

Espetáculos do MITNordeste – Mercado Internacional de Teatro Nordestino

Medalha de Ouro – Andreia Pires, Larissa Góes e Sol Moufer (Fortaleza. Ceará)

A obra reúne fragmentos de memórias de atrizes cearenses, refletindo sobre os desafios e resistências de manter-se artista. Misturando ficção e documentário, explora diferentes estilos de encenação para problematizar a pergunta: “o que é ser atriz?”, expondo os fascínios e as frustrações do ofício.

Dias 2/9, 16h; 3/9, 20h

Caixa Cultural

Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada para clientes CAIXA e casos previstos em lei)

 

Guiança – Ireno Júnior Plataforma Danças que Temos Feito (Teresina, Piauí)

O espetáculo parte da ideia de “guiar” para inventar existências dançantes que transitam entre culturas, sombras e fabulações. Combinando elementos da cultura nordestina com imagens de samurais e sereias, a obra cria um corpo em luta que encontra na dança uma forma de resistir e reimaginar realidades.

 Dias 4 e 5/9, 20h

Caixa Cultural

 

Sopro D’água – Gabi Holanda (Recife, Pernambuco)

Criação e interpretação de Gabi Holanda, é um mergulho poético na relação entre corpo, território e água. A obra atravessa memórias ancestrais e a urgência da crise hídrica, propondo uma experiência sensorial que reflete sobre a emergência climática e questiona o papel da água em uma sociedade marcada por conflitos e escassez.

 Dias 8 e 9/9, 20h

Teatro Sesi Rio Vermelho

 

Normal Mente – Clarissa Costa (Fortaleza, Ceará)

Solo que une dança, Libras e audiodescrição, a peça investiga a fragilidade do conceito de “normalidade”. O corpo em cena se comunica em fluxo com texto e movimentos, revelando contradições, fraudes e mentiras sociais que sustentam a ideia de ser “normal”.

 Dias 9 e 10/9, 20h

Caixa Cultural

 

Bípede Sem Pelo – Alexandre Américo (Natal, Rio Grande do Norte)

Inspirado nas danças populares nordestinas, o espetáculo reinventa a imagem do “animal humano” que perdeu os pelos e a razão. Entre giros, saltos e movimentos que remetem a tradições culturais, o trabalho aproxima corpo e terra, questionando o que é profanado e devolvido ao mundo comum.

 Dias 9/9, 19h; 10/9, 18h

Centro Cultural Barroquinha

 

Nêgo D’Água – André Vitor Brandão (Petrolina, Pernambuco)

Inspirado nas encantarias das águas, o espetáculo convoca cosmologias ribeirinhas e memórias ancestrais indígenas, negras e caboclas. A cena reflete sobre ecologia, preservação e modos de vida em territórios fluviais, propondo uma escuta sensível dos corpos que coexistem com os rios e sua simbologia.

 Dias 11 e 12/9, 20h

Caixa Cultural

 

A Travessia do Grão Profundo – Núcleo Caatinga de Teatro da Cia Avatar (Irecé,  Bahia)

Acompanha Zinho, um jovem sertanejo que parte pela caatinga em busca do pai que o abandonou ainda na infância. Sua jornada mistura realidade e fantasia, atravessando encontros, crenças e memórias que revelam tanto o imaginário do sertão quanto a força da identidade cultural nordestina. A peça é ao mesmo tempo viagem mítica e existencial, afirmação de pertencimento e celebração da diversidade cultural brasileira.

 Dias 13 e 14/9, 19h

Caixa Cultural

 

Inacabado – Grupo Bagaceira (Fortaleza, Ceará)

Criado para celebrar os 25 anos do grupo, o espetáculo assume o inacabamento como escolha estética e política. Entre humor, lirismo e confissões pessoais, a peça critica o produtivismo neoliberal e transforma o processo criativo em cena, reafirmando o teatro de grupo como espaço de vitalidade e sobrevivência.

 Dias 9 e 10/9, 18h

Teatro Gregório de Matos

 

Metendo a Boca – Ricardo Tabosa (Fortaleza, Ceará)

Autoficcional, o espetáculo parte da experiência de um homem que perdeu a voz na infância por ser considerado “diferente”. Entre humor, poesia e lip sync, a cena revisita o silenciamento de identidades LGBTQIAPN+ e afirma o direito de existir e falar em voz alta, sem concessões.

 Dias 11 e 12/9, 18h

Casa Preta Espaço de Cultura

 

 

Espetáculos do MITSalvador – Janela ao Mundo

Museu do que Somos – Corre Coletivo Cênico

O que é um museu? Quem escolhe o que é exposto? Como é o seu museu? A partir destas perguntas, o CORRE Coletivo Cênico cria a peça Museu do Que Somos. Entre documentos oficiais, narrativas biográficas, movimentos coletivos e vivênciasperformativas, a peça Museu do Que Somos convida o público a experienciar o lugar de curador de uma exposição e construir um museu que exponha não apenas sua memória, mas sobretudo os contextos do vivido e as peças do presente.

 Dias 3 e 4/9, 18h

Casa Preta Espaço de Cultura

 

Os Pássaros de Copacabana – Teatro Nu

A partir das canções de Ary Barroso, a peça – escrita e dirigida por Gil Vicente

Tavares – conta a história de uma travesti, às vésperas do Golpe de 1964, tentando fazer um espetáculo em homenagem ao compositor. Em cena, Marcelo Praddo interpreta clássicos de Ary e canções menos conhecidas, intercalando com depoimentos e lembranças da vida da personagem. A partir dos seus relatos, a peça vai revelando sentimentos e segredos dessa travesti em meio ao período conturbado do Brasil e a sua luta diária contra o preconceito e a marginalização de sua condição na sociedade brasileira daquela época.

 Dias 3 e 4/9, 18h

Teatro Molière

 

 Peça (Sem) Drama – Terceira Margem

Com direção e atuação de Caio Rodrigo e Gordo Neto, tem o conto A casa tomada, de Júlio Cortázar, como dispositivo. Na trama, dois irmãos, confinados sem motivo aparente, percebem que a casa onde moram está desaparecendo. Essa situação limite, ancorada num elemento sobrenatural, favorece uma constante dialética entre linguagem e vida, borrando as fronteiras entre ficção e realidade.

 Dias 6 e 7/9, 18h

Casa Preta Espaço de Cultura

 

Meninas Contam Independência – Panaceia

Duas atrizes descobrem um misterioso jogo de tabuleiro e embarcam numa divertida jornada rumo ao resgate da memória de mulheres na história do país. Meninas Contam a Independência é uma “peça-jogo” para todas as idades, um espetáculo interativo e imprevisível como todo jogo de tabuleiro. A única certeza é que, até o final da partida, muitas serão as histórias desvendadas sobre as heroínas da Independência do Brasil na Bahia. Personagens como Joana Angélica, a Cabocla, Maria Felipa, Maria Quitéria e Urânia Vanério fazem parte das histórias, desafios e enigmas deste jogo. A peça é uma realização da grupA de teatro A Panacéia, com texto original, direção de Lara Couto e a presença da atriz convidada Márcia Limma, além de uma equipe exclusivamente feminina. “Meninas Contam a Independência” foi indicado como melhor espetáculo infanto-juvenil do ano de 2024 no Prêmio Bahia Aplaude.

Dias 6 e 7/9, 18h

Espaço Xisto Bahia

 

Golpes no Ventre – Sinuosa Companhia

Golpes no Ventre narra a história de Bárbara (Jane Santa Cruz), uma mulhernegra, imersa no útero da sua mãe e que precisa tomar uma importante decisãosobre o seu próprio nascimento, diante das histórias que sua mãe lhe conta, noperíodo da sua gestação. Vítima de um abuso, a mãe de Bárbara, interpretadapelas vozes em off da atriz Zezé Motta e da Ialorixá Alda Vieira, lhe relatahistórias de conquistas e perdas vividas por ela e por suas ancestrais, traçandoum olhar contextualizado, sobre as suas raízes, em paralelo com a importânciada MULHER na sociedade atual, assumindo o protagonismo das suas escolhas,mesmo tendo que lidar com as heranças históricas patriarcais cotidianas.

Dias 9 e 10/9, 18h

Casa Preta Espaço de Cultura

 

Das Coisa Dessa Vida – Ricardo Fagundes

“Das ‘coisa’ dessa vida…” revela, da infância à vida adulta, a trajetória de quem descobre, dia após dia, como seguir existindo, na construção de sua autoimagem, autoestima e autonomia. A afirmação do nome artístico com que se identifica, Nalde, substitui o de batismo, Naldo, à medida em que a personagem cresce, rebola e lida com estigmas, preconceitos e suas violências: Nalde quer apenas ser. Entre sentir e entender, entre o enquadrar-se e a resistência, entre amores e mágoas, entre vínculos profundos e as referências de vida, Nalde chega, resiliente, ao seu próprio coração, enquanto atravessa os sentimentos do público.

Dias 10 e 11/9, 18h

Teatro Sesi Rio Vermelho

 

Ficha Técnica:

FilteBahia virou FIGA – Festival Internacional Gestos de América

Direção Artística Geral: Luis Alonso-Aude. Direção de Produção Geral: Rafael Magalhães. Curadoria: Ciane Fernandes, Thiago Romero, João Paulo Lima, Patrick Campbell e Fernando Zugno. Assistente de Produção Geral: Priscila Barreto. Assistentes de Produção Executiva: Camila Guilera. Assessoria de Mercados: Fernando Zugno. Coordenação Programadores: Antonio Vergne. Assistente de Programadores: Marcia Mascarenhas. Coordenação Iluminação: Rita Lago. Coordenação Som e Multimídia: Jefferson Oliveira. Coordenação Cenotécnica: Adriano Passos. Audiodescrição: Marcia Mascarenhas. Fotografia e Vídeo-Maker: Maise Xavier. Programação Visual: Antonio Vergne. Mediação Cultural: Poliana Bicalho. Assistente de Mediação Cultural: Janahina Cavalcante, Camila Almes, Danilo Erê, Almir Nascimento. Assessoria de Imprensa Bahia: Doris Veiga Pinheiro. Assessoria de Imprensa Nacional: Adriana Balsanelli. Colaboração Estratégica de Mercados:  Marcelo Castillo

Serviço:

FIGA – Festival Internacional Gestos de América
De 2 a 14 de setembro de 2025
Salvador – BA
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) – Sympla e bilheterias dos teatros


Programação Completa

Site: https://www.gestosdeamerica.com/
Instagram: @figestosdeamerica

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