
Uma das companhias mais tradicionais e queridas do público baiano está pronta para virar a página e escrever um novo capítulo em sua história. Após mais de dez anos sem lançar uma montagem inédita, a Cia Baiana de Patifaria confirmou a produção de seu décimo espetáculo: “A Vida é um Cabaré”. A novidade chega graças à aprovação em um edital da Fundação Gregório de Mattos (FGM), garantindo o fôlego necessário para um grupo que, em 2021, chegou a anunciar o encerramento de suas atividades.
A previsão é que a peça estreie no segundo semestre de 2026, possivelmente em julho. O momento será simbólico, pois coincidirá com as celebrações dos 39 anos da trupe responsável por fenômenos de bilheteria como A Bofetada, Siricotico e Vaca Lelé. Para Lelo Filho, fundador e alma da companhia, a aprovação do projeto encerra um ciclo de mais de uma década de tentativas em leis de incentivo e editais, marcando a retomada da criação autoral do grupo.
Crítica social em ritmo de musical
Diferente de produções anteriores como Noviças Rebeldes, onde a música conduzia a narrativa de forma linear, a nova aposta da Cia Baiana de Patifaria adota um conceito mais atmosférico. Inspirada em clássicos como o filme Cabaret (1972) e o musical Chicago, além de beber nas fontes do cineasta Pedro Almodóvar, a peça utilizará o cancioneiro brasileiro para compor o ambiente da trama, sem necessariamente contar a história através das letras.
O enredo, escrito por Lelo Filho em parceria com Vini Moraes, propõe um jogo de espelhos entre dois territórios fictícios: “Utopia” e “Distopia”. No primeiro, duas irmãs gêmeas lutam para manter de pé um teatro herdado e endividado. No segundo, o público é confrontado com uma realidade dura de censura e fechamento de espaços culturais. Através dessa dualidade, o grupo mantém sua tradição de usar o humor para tecer críticas afiadas sobre o Brasil contemporâneo e as inquietações políticas e sociais do momento.
Encontro de gerações no palco
A ficha técnica de “A Vida é um Cabaré” reflete um desejo de renovação aliado à experiência. O elenco trará o trio que atualmente brilha em Fanta e Pandora — Lelo Filho, Rodrigo Villa e Maurício Martins — reforçado por dois expoentes da nova geração do teatro baiano: Mano Leone e João Victor Sobral, este último egresso da Escola de Teatro da UFBA.
A aposta na juventude também se reflete na direção cênica, que ficará a cargo de Daniel Marques, de apenas 25 anos, um talento que se destacou pela proximidade profissional com o mestre Harildo Deda. Na direção musical, outro nome de peso da nova cena: Gabriel Mercury, filho de Daniela Mercury, assina a condução sonora. A equipe se completa com a preparação vocal de Manuela Rodrigues, figurinos de Maurício Martins, cenário de Maurício Pedrosa e iluminação de Eduardo Tudella.



